domingo, 7 de agosto de 2011
Necessariamente, mas não exatamente
Vai chegar um dia (em pouco ou muito tempo não sei, não importa) em que você vai sentir falta. Por alguma razão não explicada pela ciência você vai sonhar comigo e vai ser domingo, num dia em que você não precisa acordar. E então você vai acordar meio assustado, mas sentindo uma coisa por dentro que se confunde com fome ou agonia. E sem abrir os olhos você vai lembrar da primeira vez que sorri só porque tinha visto você. Você vai tentar repreender minha lembrança, mas ela já vai estar aí. Você vai abrir os olhos e ao olhar para as paredes vai lembrar de mim e vai procurar. Procurar uma foto, um objeto, qualquer coisa que seja que traga algum momento vivo à mente de novo, mas não vai ser suficiente. Você vai sentir falta. Você vai jogar a cabeça no travesseiro, mas acontece que o meu cheiro já sumiu dele há muito, muito tempo. Você vai vasculhar na memória. Você vai sentir falta. Você vai perceber o quanto era bom, o quanto era especial, e o quanto era verdadeiro. De verdade. E então vai sentir falta. Vai sentir falta da pessoa que sabia conversar sobre queijos e história antiga, sobre filmes e geopolítica, sobre futebol e lojas de roupa. Você vai sentir falta até da forma como eu pintava minhas unhas. Você vai sentir falta de escutar não, você vai sentir falta de ter que insistir. Você vai sentir falta de escutar o "eu te amo" mais doído do planeta todo dia. Você vai sentir falta do que fomos e do que não conseguimos ser. Você vai sentir falta de ver nos olhos o que estava por dentro. Você vai sentir falta de ver em alguém tudo aquilo que faltava em você. Você vai sentir falta de com um aperto sentir que aquilo estava completo. Você vai sentir falta dos momentos que você nunca trocaria por outros. Você vai sentir falta de olhar para alguém com quem você realmente visse um futuro. Você vai sentir falta de escolher nomes para filhos que nem nasceram e talvez nunca existissem. Você vai sentir falta de alguém que te fazia mudar de ideia, te fazia pedir desculpas para as pessoas e te dizia que você não estava certo o tempo todo. Você vai sentir falta da maciez que era o abraço e como era diferente porque tinha amor. Você vai sentir falta de brigar e sentir vontade de verdade de ligar de volta e pedir desculpas caso necessário fosse. Você vai sentir falta de alguém que fale que você é lindo, incansavelmente, e aprecie até sua cara de dengoso. Você vai sentir falta de alguém que colocava fé em você, e te via por muito além da capa. Você vai sentir falta de ter pra quem contar suas vitórias e seus medos. Você vai tentar lembrar de como eu era pra não me deixar perder nas lembranças. Você vai sentir falta de escutar o sim mais alegre que existe. Você vai sentir falta de ser o mundo de alguém. Você vai reler meus bilhetes e vai tentar me escutar lendo eles. Você vai sentir falta da minha voz, a qual talvez nem se lembre mais. Vai sentir falta de planejar aquela viagem pra Guatemala ou Macchu Picchu só com a mochila nas costas. Vai sentir falta até de como o nosso beijo encaixava, ou talvez de como a intensidade colocada nele era mais do que física. Você vai sentir vontade de estar com alguém diferente. Mas então você vai ver que é tarde demais. Que não tem mais meu telefone, nem meu endereço, nem meu interesse, nem meu amor. E de repente, num susto, o telefone vai tocar, uma voz doce vai perguntar se você está bem, e não vai ser a minha. Não mais. Nunca mais. E então recomeçará o dia.
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