Faziam dias. Os olhares se cruzavam, eles se entreolhavam, eles se esbarravam. Primeira batida. Música no play. Suor frio e quente ao mesmo tempo. Enquanto isso os pensamentos eram diversos, todos agora num universo totalmente diferente do que o de costume. Flash um, flash dois. Pisca. Abre os olhos. Ele está à sua frente e se movimenta como se soubesse que estava sendo observado. E ele então começa a observar. Esses olhos que mais parecem tocar do que olhar agora a prendem num universo totalmente dele, totalmente fechado, misterioso e excitante. Ainda que ela se mova ela continua no campo. No campo visual. Presa, observada, fitada, flertada. E gosta. Acabou o tempo. Se dirige a porta como se abandonasse os momentos de devaneios como quem toma uma dose de calmante todos os dias. Todos os dias ao passar pela porta era uma calma a mais, um suor a mais e a menos. Toca o telefone. Para e atende. Ele então vem. Vem até a porta. Desliga o telefone.
- Com licença (sorriso torto sem graça)
Ela assusta.
- Claro...
Passos até a saída, em sintonia. Param, respiram, inspiram, expiram. Se olham. Começa o diálogo. Tão espontâeno como se tivesse sido armado. Como se fosse uma peça de teatro. Sorriam, gargalham. Sintonia. A àrvore, o poste ou o que seja traz consigo uma surpresa. Um cisco, uma folha, um ramo, o que seja.
- Meu olho, caramba me ajuda.
-Deixa eu ver - ele diz.
- Aqui olha, assopra pra mim.
Era necessário assoprar assim com as mãos no rosto, quase tocando o meu cabelo? Talvez.
- Assopro.
-Devagar.
- Claro...
Perto, mais perto, mais perto. E assim, um acaso estranho estranho acaso virou um beijo. Dois. Três. Quatro...
Nenhum comentário:
Postar um comentário